sábado, 28 de agosto de 2010

Violão Embriagado


Noites em claro,
Um violão embrigado
Acabou o meu cigarro,
Te quero do meu lado,

É sempre assim, o tempo vai
A chuva cai sobre mim
Noites sem fim,
Será que você lembra?
Será que você tenta?
Esquecer...

Das Noites em claro,
Um violão embrigado
Acabou o  teu cigarro,
Te quero do meu lado

Chega aí,
Trás o nosso Johnny Red
E senta aqui*,
Quero te ouvir, sem discutir
Sem reclamar, 
Sem demora 
Vambora*...
By walking, ou num cavalo branco...

(Bete Balanço meu amor, avise quando for a hora...)


(Em construção...) Rafaella Krause 27, Agosto, 2010.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Pensava demais em mim.

Ela dizia que estava enlouquecendo.
Porque pensava demais;
Pensava demais em mim
Pensava que eu era afim


Achava que seria, enfim feliz
Se não pensasse tanto em sí,
Tanto em mim, em alguem.


Se não pensasse tanto;
Como é bom ter alguem;
Em quem pensar, no despertar.


Achava que seria, enfim feliz
Se fosse atriz, neurótica,Sim!


Ela é mulher
Ela é quem quer
Mas nem sempre sabe o que quer,


Um ser inusitado, cada dia diferente,
acha que engana a gente,
Cada hora é outra,
Cada minuto, cada segundo...que passa
Chora, disfarça...


Se fosse atriz,
Cada dia uma mulher que entra....e sai
de dentro da gente...










Rafaella Krause 19, Agosto, 2010.




Apenas um rascunho, a ideia está em construção, em ebolição eu diria.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Um abraço, tempo e um beijo pra dormir.

Tu me acha egoísta?
Tu me ama?
Acha que eu construo a minha vida em um palco?
Aonde eu devo ser o centro das atenções?
As vezes eu choro, pelo menos uma vez por mês em noites assim...
As lágrimas aproveitam o mood do cair da chuva.
As vezes é preciso um abraço, ser fraco, é difícil se manter.
Eu preciso dormir bem, por horas, dias inteiros.
Um abraço, dizer que tudo vai ficar bem.
Um um beijo pra dormir.
E de tempo, muito tempo
Esse, infezlimente não dá, esse nunca dá...
Nunca dá tempo daquele tempo que a gente precisa se dar.
Eu precisava de um tempo de abraço, de tudo vai ficar bem, de um beijo e de tempo para dormir.

Esses dias, eu chorei,  
E do fundo da memória  rasgatei uma lembrança da infância...
Nos tempos da escolinha que eu me sentia,
E sempre me vi diferente de todos, sempre preferindo os mais velhos...
As palavras, do que as formas coloridas, deixando os brinquedos de lado...

Me sentia perdida ali,
Excluia os outros do meu mundo.
Queria ver a minha mãe, mas não podia.
Eu esperava o dia todo pra ver,
O dia todo para ver uma mulher
Pra te levar pra casa, te dar um abraço e um beijo para dormir.


(Rafaella Krause e Paula Teixeira - 13/08/2010)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Conjugação do Ausente.


Foram precisos mais dez anos e oito quilos
Muitas cãs e um princípio de abdômen
(Sem falar na Segunda Grande Guerra, na descoberta da penicilina e na desagregação do átomo)
Foram precisos dois filhos e sete casas
(Em lugares como São Paulo, Londres, Cascais, lpanema e Hollywood)
Foram precisos três livros de poesia e uma operação de apendicite
Algumas prevaricações e um exequatur
Fora preciso a aquisição de uma consciência política
E de incontáveis garrafas; fora preciso um desastre de avião
Foram precisas separações, tantas separações
Uma separação...
Tua graça caminha pela casa
Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes
A cabeça enterrada nos ombros qual escura
Rosa sem haste. És tão profundamente
Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento.
A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
Porque te participam. Fora, o jardim
Modesto como tu, murcha em antúrios
A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
Quer. És vegetal, amiga...
Amiga! direi baixo o teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura, fatigada, e ao
Corredor que pára
Para te andar, adunca, inutilmente
Rápida. 
Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo
Oblíquos cristalizam tua ausência.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança.
E no entanto avistava à poucos passos
Sua forma feminina que não era
Nenhuma outra forma feminina, mas a dela
A mulher amada.
Vinícius de Moraes.


E a distância fez isso com a gente...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A Felicidade é uma Obrigação do Mercado.

Arnaldo Jabor para a coluna de Cultura do jornal Estadão.

Desculpem a autorreferência, que é vitupério - mas, estou terminando meu filme A Suprema Felicidade, que me tomou três anos, entre roteiro, preparação e filmagem. Agora, sairá a primeira cópia.Amigos me perguntam: "Que é essa tal de A Suprema Felicidade? Onde está a felicidade?" Eu penso: que felicidade? A de ontem ou a de hoje?

Antigamente, a felicidade era uma missão a ser cumprida, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros; a felicidade demandava "sacrifício". Olhando os retratos antigos, vemos que a felicidade masculina estava ligada à ideia de "dignidade", vitória de um projeto de poder. Vemos os barbudos do século 19 de nariz empinado, perfis de medalha, tirânicos sobre a mulher e os filhos, ocupados em realizar a "felicidade" da família. Mas, quando eu era criança, via em meus parentes, em minha casa, que a tal felicidade era cortada por uma certa tristeza, quase desejada. Já tinha começado o desgaste das famílias nucleares pelo ritmo da modernidade.

Hoje, a felicidade é uma obrigação de mercado. Ser deprimido não é mais "comercial". A infelicidade de hoje é dissimulada pela alegria obrigatória. É impossível ser feliz como nos anúncios de margarina, é impossível ser sexy como nos comerciais de cerveja. Esta "felicidade" infantil da mídia se dá num mundo cheio de tragédias sem solução, como uma "disneylândia" cercada de homens-bomba.

A felicidade hoje é "não" ver. Felicidade é uma lista de negações. Não ter câncer, não ler jornal, não sofrer pelas desgraças, não olhar os meninos malabaristas no sinal, não ter coração. O mundo está tão sujo e terrível que a proposta que se esconde sob a ideia de felicidade é ser um clone de si mesmo, um androide sem sentimentos.

O mercado demanda uma felicidade dinâmica e incessante, cada vez mais confundida com consumo, como uma "fast-food" da alma. O mundo veloz da internet, do celular, do mercado financeiro nos obriga a uma gincana contra a morte ou velhice, melhor dizendo, contra a obsolescência do produto ou a corrosão dos materiais.

A felicidade é ter bom funcionamento. Há décadas, o precursor McLuhan falou que os meios de comunicação são extensões de nossos braços, olhos e ouvidos. Hoje, nós é que somos extensões das coisas. Fulano é a extensão de um banco, sicrano comporta-se como um celular, beltrana rebola feito um liquidificador. Assim como a mulher deseja ser um objeto de consumo, como um "avião", uma máquina peituda, bunduda, o homem também quer ser uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente, e mais que tudo, um grande pênis voador.

A ideia de felicidade é ser desejado. Felicidade é ser consumido, é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar um objeto de consumo. Não consigo me enquadrar nos rituais de prazer que vejo nas revistas. Posso ter uma crise de depressão em meio a uma orgia, não tenho o dom da gargalhada infinita, posso broxar no auge de uma bacanal. Fui educado por jesuítas, para quem o sorriso era quase um pecado, a gargalhada um insulto.

Bem - dirão vocês -, resta-nos o amor... Mas, onde anda hoje em dia, esta pulsão chamada "amor"?
O amor não tem mais porto, não tem onde ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar. O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarrapado, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perder-se dentro de "olhos de ressaca", nem o formicida com guaraná. Mas, mesmo assim, continuamos ansiando por uma felicidade impalpável.

Uma das marcas do século 21 é o fim da crença na plenitude, seja no sexo, no amor e na política.
Se isso é um bem ou um mal, não sei. Mas é inevitável. Temos de parar de sofrer romanticamente porque definhou o antigo amor... No entanto, continuamos - amantes ou filósofos - a sonhar como uma volta ao passado que julgávamos que seria harmônico. Temos a nostalgia lírica por alguma coisa que pode voltar atrás. Não volta. Nada volta atrás.

Sem a promessa de eternidade, tudo vira uma aventura. Em vez da felicidade, temos o gozo rápido do sexo ou o longo sofrimento gozoso do amor; só restaram as fortes emoções, a deliciosa dor, as lágrimas, motéis, perdas, retornos, desertos, luzes brilhantes ou mortiças, a chuva, o sol, o nada. O amor hoje é o cultivo da "intensidade" contra a "eternidade". O amor, para ser eterno hoje em dia, paga o preço de ficar irrealizado. A droga não pode parar de fazer efeito e, para isso, a "prise" não pode passar. Aí, a dor vem como prazer, a saudade como excitação, a parte como o todo, o instante como eterno. E, atenção, não falo de "masoquismo"; falo do espírito do tempo.

Há que perder esperanças antigas e talvez celebrar um sonho mais efêmero. É o fim do "happy end", pois na verdade tudo acaba mal na vida. Estamos diante do fim da insuportável felicidade obrigatória. Em tudo.
Não adianta lamentar a impossibilidade do amor. Cada vez mais o parcial, o fortuito é gozoso. Só o parcial nos excita. Temos de parar de sofrer por uma plenitude que nunca alcançamos.

Hoje, há que assumir a incompletude como única possibilidade humana. E achar isso bom. E gozar com isso.
Não há mais "todo"; só partes. O verdadeiro amor total está ficando impossível, como as narrativas romanescas. Não se chega a lugar nenhum porque não há onde chegar. A felicidade não é sair do mundo, como privilegiados seres, como estrelas de cinema, mas é entrar em contato com a trágica substância de tudo, com o não sentido, das galáxias até o orgasmo. Usamos uma máscara sorridente, um disfarce para nos proteger desse abismo. Mas esse abismo é também nossa salvação. A aceitação do incompleto é um chamado à vida.

Temos de ser felizes sem esperança. E este artigo não é pessimista...